Nó na garganta e mar(es) de olhos. Só podia ser… O que não parecia é que passasse tão depressa. O tempo. O Coelho de Alice diz «Não há tempo! Não há tempo!» … Tempo não há. Há não tempo.
E portanto cachopos, gaiatos, putos: projectos d’algo… a caminho da escola, caminho bravo, caminho de terra e lama, caminho por entre tantas árvores (ainda). E, depois, “take the long way home”
Agora em breve narrativa. E foi num dia que até lhe recordo a luz, sentado nas tais cadeiras e mesas que já existiam há muito, que um desses abnegados missionários, um s’tor de Filosofia, disciplina mais estranha, nos disse em jeito de pergunta socrática: «Dizei-me porque não apresentais vós as tarefas de Philosophia na forma de sublimes representações (ou autos) de theatro?» (Atenção que isto não foi assim há tanto tempo, não se deixem enganar, é só para ficar mais literário, mais místico.). Corria o ano de 1990. O S’tor era o Carlos Amaral (e é, um bom amigo). E, a partir daí foi a “lókura”! Um festival! Toda essa turma do 10ºC2 – 89/90 – se dividia em grupos e encenava as suas pequenas peças, conforme o tema…. O resultado era um mini festival de teatro que decorria nos períodos das aulas de Filosofia. E houve de tudo! Só para falar do caso do meu grupo: primeiro tema, “Apologia de Sócrates”. Recriação do tribunal, com abertura com música dos Beatles e duas tochas gigantes só para dar “aquele” ambiente… Maravilha… Já para o fim da recriação, o público mais asmático ou mais sensível de pulmões deixava de emergência a sala por entre grossas colunas de fumo. Algures numa sala do pavilhão D, duas manchas assinalaram durante anos o grandioso show! (será que Moreira, o Subtil, descobriu?). Outra: tema egípcio… Cenografia de um templo egípcio. Do que se lembraram estes aspirantes a teatreiros? Toca de ir “desviar” uma areiazita a umas obras e, de bicicleta, levá-la… Chegando à sala, no dia da representação, espalhá-la pelo chão, mesas, cadeiras… Mas estávamos no deserto ou quê? Outras tantas dezenas de velas, etc.…. E no fim sempre o espanto d’existir, como prega a Filosofia. Para limpar a sala, todos a ajudar… Os nossos colegas, as auxiliares, todos, todos a colaborar, a cooperar, a fazer acreditar no pontapé no “im” da palavra “impossível”.
E foi com este espírito que se criou o Teatro TapaFuros, uma das estruturas profissionais de Sintra, este ano a comemorar 16 anos. Foi este carinho de professores, de funcionários, de colegas que ajudou a criar o grupo com a energia e a força que o caracterizam e que lhe permitem criar espectáculos para a infância, teatro de rua, performances e animações, espectáculos de música, poesia…
E, quando cada um, que no ano de1991, partiu para outras aventuras, universidade e etc., deixou-se no ar … Reticências… e tudo o que elas deixam a pairar: mistério, magia, o que fica sempre por dizer… O que sobra para o imaginar… O teatro do grande palco que é a vida!
«Era uma vez, duas ou três, um rei que usava sempre um chapéu... Sempre, sempre, sempre... Dormia com o chapéu e com ele ressonava. Acordava com o chapéu e com ele tomava banho. Ia para a praia com o chapéu e com ele fazia surf... Enfim não era de se lhe tirar o chapéu! É que ele zangava-se!
E como isto de ser Rei é coisa complicada, toca de dizer aos seus súbditos que todos tinham de usar chapéu! Até os bebés já nasciam de chapéu!... No país dos chapéus, chapéus há muitos... Só que um dia... tudo iria mudar... E uma revolução se iria dar. Chapéus ao ar, chapéus ao ar!
Estória bem contada, como outras já se contaram. Umas foram com cravos, esta é com chapéus... Quem nota a diferença?
O que importa é não esquecer, a estória que se vai dizer! No fim, passamos o chapéu, pra ver se não há carecas ao léu...»
No País dos Chapéus, pelo Teatro Reticências.
**Ficha Técnica**
MONTAGEM: Fátima Monteiro, Lurdes Gonçalves, Manuel Alves, Rafael Figueiredo. Rui Mário
MONTAGEM DE LUZ E SOM: Centro de Produção Audiovisual, Rui Mário
LUMINOTECNIA: Centro de Produção Audiovisual, Rui Mário
SONOPLASTIA: Centro de Produção Audiovisual, Rui Mário
PRODUÇÃO EXECUTIVA: Inês Pereira, Fátima Monteiro, Lurdes Gonnçalves
**Ficha Artistica**
TEXTO: Teatro Reticências
ENCENAÇÃO: Rui Mário
DESENHO DE LUZ: Rui Mário
ACTORES: Ana Patricia Carvalho, Ana Rita Gonçalves, Ana Rita Neves, Carolina Sáles, Catarina Salgueiro, Catarina Trindade, Elisio Manuel, Fábio Ventura, Fátima Semedo, Helda Tavares, Inês Aguiar, Inês Amaro, Inês Pereira, João Vicente, Joana Viegas, Mizé, Nelson Correia, Nuno Pinheiro, Olavo Silva, Pedro Manaças, Renata Marques, Soraia Teixeira, Zé Pedro
AGRADECIMENTOS: Teatro Tapafuros, João Vicente Centro Paroquial de Rio de Mouro, Conselho Executivo Escola Secundária de Leal da Câmara
PROFESSORAS RESPONSÁVEIS: Lurdes Gonçalves, Fátima Monteiro
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