Viver num Subúrbio é como viver em caixas. Aqueles que se lançam na diáspora diária, numa autêntica peregrinação de sobrevivência em direcção ao centro (porque há sempre um centro) não lhe podem chamar outra coisa que não prisão. Mas para aqueles que nasceram nos subúrbios a visão é outra. Há hoje toda uma geração de filhos do subúrbio, a adaptados e inadaptados a ele, com toda a sua experiência completamente moldada pela particularidade de aqui viver. Os primeiros amigos, o primeiro beijo, o primeiro assalto. E as expectativas, proferidas em voz alta por entre o fumo adocicado, buscam inspiração nas luzes da noite, no rugir dos pesos em asfalto e metal. A verdadeira corrente sanguínea de tudo isto. À noite o tungsténio e o néon brilham mais que as estrelas e a lua continua a oferecer-se de vez em quando laranja, como em qualquer outro lugar.
Há algum tempo que vejo esta paisagem com olhos de quem apenas volta e não permanece. E talvez porque estou distante, aos meus olhos surge-me o único de tudo isto. O subúrbio não e o medo, não é o desprezo, e não pode ser o nojo. O subúrbio não é um, são vários.
Se calhar viver num Subúrbio é como viver numa caixinha. Uma caixinha de espelhos como aquelas que se fazem rodar na mão, e que por cada vez que por ela se espreita uma nova paisagem se deixa surgir.
GII Costa
Pérolas
A loucura da normalidade. No tempo de uma viagem a viagem do tempo. E passaram cinco, dez, vinte, trinta... minutos? Anos. Onde descerei? As portas não se abrem? Conchas gigantes amontoam-se no areal de sapatos cheio de gente-grão-de-arela (também). Dir-se-iam: ostras.
Walkman no ouvido ouço a cantiga "podes encontrar as ostras mas nunca terás as pérolas". Canto canto... Mas sei: olhando o brilho de olhos concretos, janelas secretas, sei de uma pérola. Como menino que diz sei de um ninho. Pérolas escondidas, já não ouço a cantiga, muitas pérolas que brilham multo e escrevem e tocam pianos e violinos e olham estrelas e lêem palmas das mãos e riem até fazem multo amor até filhos lindos! Pérolas na concha fechada. Concha que se descobre de repente, fragmento de vida imensa, particular do cosmos... Comboio puxado pelo cordel, chuchuchu, nas mãos-criança de todos nos. Suburbia Playtime...
Rui Mário
Rio de Mouro, 13 de Maio de 2005
São flores suburbanas que nascem por entre as pedras das calçadas. Sob o betão cinzento há sementes esquecidas que esperam para germinar. Deixa o sol entrar e bebamos juntos o seu amor, canto à paz. Se ao menos voássemos… Só um puff e saímos daqui… bem, as asas temos. Neste nosso subúrbio onde nascemos, crescemos e vivemos, espreita-nos a Lua por entre dois blocos de betão armado. E a nossa única janela e o seu sorriso ainda nos diz que o amor pode vir a ser, novamente, a palavra de ordem. Em cada esquina um encanto, um aceno e, felizmente, ainda há flores coloridas nos canteiros. São tristes aqueles que não reparam nelas. Loucos os que falam delas ao jantar. Uma página negra… um espaço negro… uma negritude intensa em todos os cantos, sítios, habitações… um vazio constante… Suburbia. Por acaso não tem este modelo 38? Ou 37, 39, também serve… desde que seja confortável. Se ao menos existisse o meu próprio número. Tantas marionetes em tantas caixinhas de fósforos… Tão coradas, tão felizes, tão sorriso de pau. É preciso sonhar debaixo do cimento sufocante. Aspirar e ascender às mais altas nuvens do céu, e aí encontraremos a luz que nos guia. Oh bailarina de dedos de betão… Tonturas de mel dourado… tanta sofreguidão nesse teu olhar. Qual é a música que o cimento nos dá? Pequenas cerejas com um delicioso brilho vermelho, envolvem as tépidas manhãs suburbanas. Caminhamos alucinados em ondas de desgraças e solidão num mundo que, obstinadamente, recusa a alegria da vida e a verdade do Amor. O reino da Alma é o Amor, o reino da terra é vida de subúrbio, o reino dos Céus é transcendência. E quando caminharmos pelo passeio, cinzento só, será para fabricar uma pérola na ponta dos dedos. Segredos cinzentos e brilho. Playtime!
Reticências
Ficha técnica
Montagem:
* Fátima Monteiro
* Lurdes Gonçalves
* Manuel Alves
* Rafael Figueiredo
* Rui Mário
Montagem de luz:
* Luís Dias
* Fábio Casquinha
* Rui Mário
Luminotecnia:
* Daniel Figueiredo
* Sonoplastia: Rui Mário
Gravação de sonoplastia:
* Rui Benfeitas
Produção executiva:
* Marion Carreira
* Fátima Monteiro
* Lurdes Gonçalves
Ficha Artística
Actores:
* Ana Patrícia
* Ana Penitencia
* Carolina Brelhal
* Inês Pereira
* Joana Borges
* Joana Paulo
* Joao Vicente
* Nuno Pinheiro
* Pedro Manaças
* Rita Saraiva
* Rui Índio
* Sara Costa
* Zé Pedro Santos
Encenação:
* Rui Mário
Texto:
* Gil Costa
Imagem:
* João Vicente
Vídeo:
* Adriadne Freitas
* Luís Dias
Actores vídeo:
* Inês Pereira
* Daniel Figueiredo
Voz Divina:
* Mizé
Gravação de voz:
* Nuno Bento
Desenho de luz:
* Rui Mário
Agradecimentos:
* Teatro Tapafuros
* Centro Paroquial de Rio de Mouro
* Conselho executivo da Escola Secundaria de Leal da Câmara
O Teatro Reticênciasnasceu no ano de 1995 com o objectivo de dar continuação ao trabalho realizado pelos grupos TapaFuros e Parte II. Sempre constituído por alunos da escola, o TeatroReticências tem, desde então, em cada ano lectivo, apresentado o seu trabalho à comunidade escolar e participado, diversas vezes, em iniciativas dinamizadas pela Câmara Municipal de Sintra, pela Culturgest e pelo Grupo de Teatro Tapafuros.
Assim, em 1995, representou as peças O Conde Drácula, República e Dactilógrafas; em 1996, levou a cena Antes de Começar... Depois de Terminar, de Almada Negreiros; Alguém Terá de Morrer, de Luís Francisco Rebelo,e excertos da peça Falar Verdade a Mentir, de Almeida Garrett, foram os trabalhos apresentados em 1997; em 1998, Rei de Helíria, de Alice Vieira, foi a peça escolhida; em 1999, o grupo encenou as peças Vestido de Noiva e 2000 Nunca Esteve Tão Longe, a primeira da autoria de João Gaspar Simões e a segunda da autoria do grupo; em 2000 Médico à Força, de Molière, foi a peça apresentada pelo Teatro Reticências; Chá de Lua com Mel, criação colectiva com textos de Alexandre O'Neill, Mário Henrique Leiria e Fernando Lemos e As Aventuras de João Sem Medo, de José Gomes Ferreira foram os trabalhos apresentados em 2001 e 2002, respectivamente. Em 2003, além da participação em actividades na escola, o grupo apresentou no final do ano lectivo a peça Previsão de Tempo para Utopia e Arredores(textos de Charles Simic, Baltazar e actores). Em 2004, Estorinhas Sonhadas foi a peça apresentada, desta vez para um público infantil, com base em contos tradicionais. Em 2005, o grupo apresentou Suburbia Play Time, de Gil Costa (antigo membro do grupo). No País dos Chapéus, da autoria do grupo, e O Segredo de Chantel, de Hélia Correia foram as peças apresentadas em 2006. Com a primeira, o grupo participou na 14ª Mostra de Teatro das escolas de Sintra e com a segunda no projecto PANOS, dinamizado pela Culturgest. Neste último projecto participou também em 2007 com Copo Meio Vazio, de Alexandre Andrade e em 2008 com Escudos Humanos, de Patrícia Portela, peça que mereceu uma reportagem alargada da sua preparação que consta da edição nº795 da revista Visão. Escudos Humanos subiram, neste ano, aos palcos do Grande Auditório da Culturgest em Lisboa e do Centro Cultural Vila Flor em Guimarães. Ainda com esta peça, o grupo participou no Festival de Segundo Teatro em Mem Martins. Ainda no ano de 2008, alguns membros do Teatro Reticências integraram o elenco de Folia – Tu És Isso, espectáculo volante nos jardins da Quinta da Regaleira, levado a cabo pelo Teatro Tapafuros, integração essa que se repetiu em 2009 com a participação de alguns membros do grupo de Teatro Reticências em A Tempestade, outra produção do Teatro Tapafuros. Ainda em 2009 o Teatro Reticências participou, pelo 4º ano consecutivo, no projecto Panos e visitou novamente o Centro Cultural Vila Flor em Guimarães, desta vez com o espectáculo Refugade Abi Morgan.
Além de todos estes trabalhos, o Teatro Reticências tem colaborado em vários projectos da Escola, nomeadamente, em sessões de poesia, sensibilização para diversas problemáticas e festas de Natal.
Bem-vindos ao novo blog da nossa "familia"! Qualquer um dos membros dos Retis poderá publicar um post bastando para isso enviar o texto e/ou imagens para teatroreticencias@eslc.pt com o assunto Blog. Também outras pessoas podem enviar os seus textos e imagens para uma eventual publicação.